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Política, de Michel Croz

-Poemas, Aforismos, Desaforos, Cronopoemas-

edição bilíngue

Tradução do espanhol ao português de Verônica Loss

Posfácio de Ernesto Lopez Ortiz

(edição esgotada – últimos exemplares para colecionadores)

A chancela tan ed. apresenta Política, de Michel Croz, publicação de resistência em tempos que parecem chocar outro ovo da serpente. Não, não editamos entre as grandes guerras do século XX, mas cem anos depois. A constatação de que a espiral das mentalidades retorna ao pior passado moderno, o da insurgência totalitária, rege estes versos escritos para serem lidos de uma sentada e em um só fluxo.

Talvez o mais notável em política seja o que o separa da poesia de contestação atual. No lugar dos libelos da militância e da fácil evocação panfletária, este livro não clama por liberdade, a exercita. A criação, sabemos, difere da descrição.

Assim, para além da força do seu humanismo, o que torna esta poesia um exercício libertário é a sua variação de estilos, sua polifonia e seu foco caleidoscópico. Tal pluralidade formal, de timbres e de perspectivas revela um poeta no auge da sua técnica, capaz de equilibrar maturidade e inquietude, instinto lírico e poder de indignação.

Em um universo de alusões latino-americanas, Croz passa de Jara a Gil, de Courtoisie a Bukowski, de Grouxo a Fidel, para mergulhar no emblemático poeta riverense Olyntho Simões (1901–1966) e renovar o seu portunhol-raiz com uma voz que o nativo reconhece falada e o forâneo entende escrita.

Espontâneo e genuíno, o doce uso do linguajar é também político, evidentemente. E quando funciona, como na linhagem poética que de Olyntho Simões passa por Michel Croz e deste ao jovem David Benavídes, cristaliza a oralidade popular em uma concreta permanência literária.

Cabe menção ao apuro da tradução de Verônica Loss, que atende as exigências não apenas dos originais, mas das inversões híbridas. Como se verá, o portuñol em espanhol não é o mesmo em sua versão em português. O trabalho de Loss aqui não só é inédito, é referencial para o ofício.

 

Do silêncio desaparecido

5
até que um dia
virá a
aurora amanhecida de todas
as que teriam sido
se erguerão dos mortos
surgirão entre as colinas e
as bicas os
desaparecidos
(na sua boca a margarida na
sua boca a maria-mole
enfeitiçada nascida)

 

(lido por Thomaz Albornoz Neves abaixo)

 

***

 

às vezes entendo a política dos olhos
entendo por exemplo que não há exemplo
e tudo pode ser novo de novo
os olhos amadurecem no verão
quando o sol arde e os cristais
opacam as coisas e as gentes
e toda política além do mais

às vezes entendo a política dos olhos
quando chega o outono e tudo amarelece
e não é possível cerzir o talho do mundo
mais adiante morre a política dos olhos
e tudo se vai escurecendo sem mel nem corpos
ainda assim é primeiro de maio
que como um falo nos sustenta

às vezes entendo a política dos olhos
sobretudo entendo quando caem dos meus olhos
aqueles brilhos que perambulam
desde as bamboleantes bundas
de mulheres & homens
e entendo toda a política toda
e em primavera em plena
festa de dionísio

me acabo

 

(tradução de V. Loss do poema lido no original pelo autor abaixo)

 

Michel Croz Martins

Nascido em Rivera, fronteira norte do Uruguai com o Brasil, em 1962. Poeta, dramaturgo, cronista, ensaísta. Estudou Ciência Social e Política, Filosofia, mas entregou-se ao Teatro. O teatro é poesia em ação (então ajo como poeta, diz). Escreveu livros, alguns melhores que outros, e nenhum lhe pertence. A poesia, diz também, é um ato de amor e desamor entre o poeta e a linguagem.

 

Especificações:

Brochura,  91 pgs.

Dimensões: 20 x 13 cm

Exemplares numerados, 18 em estoque. 1ª edição.

Idioma: Espanhol / Português / Portunhol

Ano de publicação: 2021

ISBN 978-65-81264-02-4

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R$89,00

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.