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Inventário

Inventário, de Lucio Carvalho

Inventário (1986-2020) reúne poemas de Falso Alarde, Pedra Pomes e Achados Salvados Perdidos do bageense Lucio Carvalho (1971). Lucio escreve sobre o campo sem recair no folclore e sobre o universo urbano sem perder o olhar trazido do interior. O resultado é uma dicção cosmopolita que renova a cultura gaúcha e extravasa Porto Alegre, sua cidade de adoção. Poeta do cotidiano e do pensamento é uma das vozes mais originais da poesia contemporânea brasileira.

 

Empatado

Tudo aqui é demorado:
o boi demora ao arado
e até o ar, esse vento parado,
quando venta, o faz bem calado.

Andamos tais quais os cavalos
no pasto imenso, em estalos.
A passo, sem intervalos.
Pensei um dia em matá-los

e voltar a ser fera nos matos,
viver sem espalhafatos,
sem prazos, fortuna ou mandatos
(eu lá pescarei nos regatos).

Se eu for, que ninguém me resgate.
Vou por gosto e só pode ser disparate
trazerem-me de volta ao combate
(prefiro perder ao empate).

 

e

 

    A fome nasce dentro dos dentes

Entendo que estou mais errado
quando penso melhor.

A dor maior de ser enganado
pela dor.

A paisagem que pinto sem cores,
sem paisagem.

A única forma que tenho
para contar minha história.

Foi entre as veredas, longe daqui,
havia quase água nenhuma nas fontes.

O fogo alastrou com o vento
e escondeu-se nas labaredas,

mas, a despeito da sede,
hoje em toda a parte choveu.

Todos pararam de correr há tempo,
eu continuo.

Sem respaldo nem estratégia,
não me fixo, escorrego.

Isso e vingar-me das sombras
nas sombras.

Isso e macerar com os dentes a noite
e a aurora.

Eu fiz curvas na curva e antecipei, sem razão,
os movimentos.

Como se num livro que não esperasse ser lido
se encontrasse a verdade e sua necessidade de ser.

Como se dentro do corpo tivesse sido possível
um reencontro.

Como se então não apenas fossem meus olhos
na escuridão imensa.

Sem habitat,
como um animal sozinho e faminto e doente

que já não pensa no que precisa fazer,
mas deseja voltar a viver

e lembrar outra vez e outra vez e outra vez
que a fome nasce é dentro dos dentes.

 

Especificações:

Capa dura,  432 pgs.

Dimensões: 21 x 14 cm

Exemplares numerados, 35 em estoque. 1ª edição.

Idioma: Português

Ano de publicação: 2022

ISBN   978-65-81264-05-5

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R$129,00

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.