Glossário do golfe
Swing
O verbete diz que o swing é a ação através da qual o jogador bate na bola com o taco de golfe. Acrescenta que o movimento é complexo, mecânico e que envolve o corpo inteiro. Sim, tudo bem, é mecânico. Mas só até ali.
Sempre que penso na técnica do swing me vem a frase que Wild Bill Mehlhorn (1898-1989) dizia aos seus discípulos: the art of golf is learning to do nothing (a arte do golfe é aprender a não fazer nada). E para ilustrá-la pedia ao aluno que trocasse o taco pela foice e cortasse um tufo de rough ao lado da zona de treino. Ao movimento natural da gadanha, que obriga acelerar antes do contato para ceifar o pasto, Wild Bill perguntava em que o golfista tinha pensado para fazer aquele arco.
– Ora, em… nada.
Zen, o velho Wild, não é mesmo?
Apesar do pragmatismo deste campeão americano dos anos 20, a realidade é que é ilimitado, infinito, o que cabe no segundo e meio de um swing de golfe. Desde uma perspectiva externa e resumida, um swing contém a rotina para a tacada, o amague, a parada na bola, a tirada e a subida do taco, o topo, a volta do taco, o impacto, a descarga da potência e o final do arco. A isto some-se o plano do swing, o tempo e o ritmo do pêndulo. Já desde a perspectiva interna, o controle emocional, o foco, a zona, o planejamento de jogo também influenciam diretamente na execução do movimento e fazem parte dele. Como o espírito faz parte do corpo.
Todo jogador que passa horas no driving-range acaba por ter os seus próprios pensamentos sobre o swing de golfe. Seguem algumas notas retiradas ao acaso de um diário de treino escrito no Campestre de Livramento, fronteira com Uruguai.
. Ao armar cada stance o golfista entra numa dimensão do tamanho do arco do swing. Uma redoma.
. O giro feito pelo taco ao redor do corpo abarca o céu por onde voa a bola. O swing abarca o alvo.
. O olho físico está na bola, o olho mental está no voo da bola à bandeira.
. Treinar bater com a imagem da bola voando na mente.
. No rastro da bola voando o silêncio se fecha, volta a ser inteiro.
. O olhar no swing não pertence ao pensamento nem ao corpo. Pertence ao movimento.
. O swing de golfe é feito de falsas sensações e reações involuntárias. Só o voo da bola diz a verdade.
. Repetir o movimento bola após bola. É o corpo quem recorda algo que o golfista nunca soube.
. O que se aprende sem saber, nos primeiros anos de golfe, é o interior do swing. Talvez por isso seja tão difícil aprender já maduro. Há dimensões do jogo que não se aprende sabendo.
. O swing é aéreo até que o contato o materializa. E o corpo do golfista, ao receber também o impacto que projeta a bola no espaço, se recarrega a cada tacada bem feita.
. É o impacto que deixa a mente em branco durante o voo da bola.
. Na tacada perfeita um vislumbre passa sem ser visto. E o golfista sente que compreende.
. Ao executar a tacada deve-se estar comprometido com o movimento e, ao mesmo tempo, indiferente ao seu resultado.
. Nunca guiar a direção do taco na zona de contato. O segredo está em bater na bola apesar de si mesmo.
. Algo na fluidez, nessa sintonia finíssima que afia a precisão do golpe, tem a ver com entregá-lo à própria sorte.
. Sentir no swing a sombra da tacada.
. De toureiro, o finish de toureiro.
. Enquanto a bola voa, o mundo parece parado.
. A bola ainda no ar e o aroma da terra molhada que levanta do divot.
. Se a tacada é perfeita, não a sinto minha. O erro sim, é sempre meu.
(…)
E por aí vai.
Hogan dizia que todo golfista em busca da perfeição deve lutar contra a sua inclinação natural e fazer simplesmente o contrário do que sinta que deve fazer. Que talvez assim consiga aproximar-se do movimento ideal. Essa aparente contradição traduz, em certa medida, a profundidade desse gesto tão pessoal. O certo é que não há um único movimento correto para bater na bola. E cada um, do iniciante ao profissional, procura dominar a volátil verdade do swing de golfe. Mas ela foge.
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