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René Char

6 poemas

 

Quatre fascinants

Le taureau

Il ne fait jamais nuit quand tu meurs,
cerné de ténèbres qui crient.
Soleil aux deux pointes semblables.

Fauve d’amour, vérité dans l’épée,
Couple qui se poignarde unique parmi tous.

 

La truite

Rives qui croulez en parure
Afin d’emplir tout le miroir,
Gravier où balbutie la barque
Que le courant presse et retrousse,
Herbe, herbe toujours étirée.
Herbe, herbe jamais en répit,
Que devient votre créature
Dans les orages transparents
Où son cœur la précipita?

 

Le serpent

Prince des contresens, exerce mon amour.
À tourner son Seigneur que je hais de n’avoir
Que trouble répression ou fastueux espoir.

Revanche à tes couleurs, débonnaire serpent.
Sous le couvert du bois, et en toute maison.
Par le lien qui unit la lumière à la peur,
tu fais semblant de fuir, ô serpent marginal!

 

L’alouette

Extrême braise du ciel et première ardeur du jour,
Elle reste sertie dans l’aurore et chante la terre agitée,
Carillon maître de son haleine et libre de sa route.

Fascinante, on la tue en l’émerveillant.

 

Quatro fascinantes

O touro

Nunca é noite quando morres
rodeado por trevas que urram
Sol de dois extremos semelhantes

Fera do amor, verdade na espada
Casal que se apunhala único entre todos

 

A truta

Margens que esmigalhais adornadas
a fim de alagar todo o espelho
Cascalho onde o barco balbucia
que a correnteza prensa e enovela
Relva, relva, sempre estirada
Relva, relva, sempre e sem pausa
O que é vossa criatura
nas tormentas transparentes
onde a precipita seu coração?

 

A serpente

Príncipe dos contrassensos, cultiva o meu amor
para evitar seu Senhor que odeio por não ter mais
que inquieta repressão ou suntuosa esperança

Desforra das tuas cores, bondosa serpente
Na felpa do bosque e em todas as casas
Pelo laço que une a luz ao medo
ameaças fugir, oh serpente marginal

 

A cotovia

Extrema brasa do céu e primeiro ardor do dia
Incrustada na aurora canta a terra agitada
Arame de sinos dona do seu alento e livre do seu caminho

Maravilhosa, a matam ao maravilhá-la

 

 

A la santé du serpent

I
Je chante la chaleur à visage de nouveau-né, la chaleur désespéré.
III
Celui qui se fie au tournesol ne méditera pas dans la maison. Toutes les pensées de l’amour deviendront ses pensées.
IV
Dans la boucle de l’hirondelle un orage s’informe, un jardin se construit.
V
Il y aura toujours une goutte d’eau pour durer plus que le soleil sans que l’ascendant du soleil soit ébranlé.
X
Tu es dans ton essence constamment poète, constamment au zénith de ton amour, constamment avide de vérité et de justice.
C’est sans doute un mal nécessaire que tu ne puisses l’être assidûment dans ta conscience.
XI
Tu feras de l’âme qui n’existe pas un homme meilleur qu’elle.
XII
Mon amour, peu importe que je sois né : tu deviens visible à la place où je disparais.
XIX
Ce qui t’accueille à travers le plaisir n’est que la gratitude mercenaire du souvenir. La présence que tu as choisie ne délivre pas d’adieu.
XXI
Si nous habitons un éclair, il est le cœur de l’éternel.
XXVI
La poésie est de toutes les eaux claires celle qui s’attarde le moins au reflet de ses ponts.
Poésie, vie future à l’intérieur de l’homme requalifié.

 

À saúde da serpente

I
Eu canto o calor do rosto recém-nascido, o calor desesperado.
III
Aquele que confia no girassol não meditará em casa. Todos os pensamentos do amor serão seus pensamentos.
IV
No laço da andorinha uma tormenta se orienta, um jardim se constrói.
V
Sempre haverá uma gota de água que dure mais do que o sol, sem que o ascendente do sol trema por isso.
X
Em tua essência és poeta sempre, sempre no zênite do teu amor, sempre ávido de justiça e verdade.
Sem dúvida é um mal necessário que não o sejas sempre em tua consciência.
XI
Tu farás da alma que não existe, um homem melhor que ela.
XII
Meu amor, pouco importa que eu tenha nascido, tu te tornas visível no lugar em que desapareço.
XIX
O que te acolhe através do prazer não é mais que a gratidão mercenária da recordação. A presença que escolheste não se livra do adeus.
XXIV
Se habitamos o relâmpago, habitamos o coração do eterno.
XXVI
A poesia é, de todas as águas claras, a que menos tarda nos reflexos das suas pontes.
Poesia, via futura ao interior do homem remodelado.

 

La rose de chêne

Chacune des lettres qui compose ton nom,
ô Beauté, au tableau d’honneur des supplices,
épouse la plane simplicité du soleil, s’inscrit
dans la phrase géante qui barre le ciel, et s’associe
à l’homme acharné à tromper son destin
avec son contraire indomptable : l’espérance.

 

A rosa de carvalho

Cada uma das letras que formam teu nome
Ó beleza, no quadro de honra dos suplícios
desposa com a plana simplicidade do sol, se inscreve
na frase gigante que bloqueia o céu, e se associa
ao homem determinado a enganar seu destino
com seu oposto indomável: a esperança

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.