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Henri Michaux

7 Poemas

 

Paysages

Paysages paisibles ou désolés.
Paysages de la route de la vie plutôt que de la surface de la Terre.
Paysages du temps qui coule lentement, presque immobile et parfois comme en arrière.
Paysages des lambeaux, des nerfs lacérés, des saudades.
Paysages pour couvrir les plaies, l’acier, l’éclat, le mal, l’époque, la
corde au cou, la mobilisation.
Paysages pour abolir les cris.
Paysages comme on se tire un drap sur la tête.

 

Paisagens

Paisagens em paz ou desoladas
Paisagens da estrada da vida mais que da superfície da terra
Paisagens do tempo que flui lentamente, quase imóvel e que às vezes
flui para trás
Paisagens de farrapos, de nervos lacerados, de saudades
Paisagens de encobrir as chagas, o aço, o clarão, o mal, a época, a
corda na garganta, a mobilização
Paisagens para abolir os gritos
Paisagens como um cobertor tapa a cabeça

 

Ma vie

Tu t’en vas sans moi, ma vie.
Tu roules.
Et moi j’attends encore de faire un pas.
Tu portes ailleurs la bataille.
Tu me désertes ainsi.
Je ne t’ai jamais suivie.
Je ne vois pas clair dans tes offres.
Le petit peu que je veux, jamais tu ne l’apportes.
A cause de ce manque, j’aspire à tant.
À tant de choses, à presque l’infini…
À cause de ce peu qui manque, que jamais n’apportes.

 

Minha vida

Tu vais sem mim, vida minha
Tu rodas
E eu ainda espero dar um passo
Levas a batalha à outra parte
Tu me abandonas
Eu nunca te segui
Não vejo claramente tuas ofertas
O pouco que eu quero, jamais me trazes
É por essa falta que anseio tanto
Tantas coisas, quase o infinito
por causa desse pouco que falta, que jamais me trazes

 

Sur le chemin de la morte

Sur le chemin de la Mort
Ma mère rencontra une grande banquise;
Elle voulut parler,
il était déjà tard,
une grande banquise d’ouate.

Elle nous regarda mon frère et moi,
et puis elle pleura.

Nous lui dîmes – mensonge vraiment absurde que nous –
comprenions bien.
Elle eut alors ce si gracieux sourire de toute jeune fille,
Qui était vraiment elle,
Un si joli sourire, presque espiègle;
Ensuite elle fut prise dans l’Opaque.

 

No caminho da morte

No caminho da Morte
minha mãe encontrou um grande bloco de gelo
Quis falar
mas já era tarde
uma grande bolsa de gelo

Ela olhou para o meu irmão e para mim
e então chorou

Nós lhe dissemos – mentira tão absurda –
que entendíamos
Ela então tinha aquele gracioso sorriso da menina
que ela nunca deixou de ser
Um sorriso tão bonito, quase travesso
Então ela foi levada pelo Opaco

 

Je suis gong

Dans le chant de ma colère il y a un œuf,
Et dans cet œuf il y a ma mère, mon père et mes enfants,
Et dans ce tout il y a joie et tristesse mêlées, et vie.
Grosses tempêtes qui m’avez secouru,
Beau soleil qui m’as contrecarré,
Il y a haine en moi, forte et de date ancienne,
Et pour la beauté on verra plus tard.
Je ne suis, en effet, devenu dur que par lamelles;
Si l’on savait comme je suis resté moelleux au fond.
Je suis gong et ouate et chant neigeux,
Je le dis et j’en suis sûr.

 

Eu sou gong

No canto da minha cólera há um ponto
Nele estão minha mãe, meu pai, meus filhos
Em tudo isso alegria e tristeza misturadas, e vida
Intensas tormentas que me socorreram
Belo sol que me contrariaste
Existe ódio em mim, forte e de longa data
Já decidiremos a respeito da beleza
E se me tornei, de fato, duro, foram as lágrimas
Soubessem o brando que estou no fundo
E sou gong e algodoado e canto nevado
Digo eu e estou certo do que digo

 

La jeune fille de budapest

Dans la brume tiède d’une haleine de jeune fille, j’ai pris place.
Je me suis retiré, je n’ai pas quitté ma place.
Ses bras ne pèsent rien.
On les rencontre comme l’eau.
Ce qui est fané disparaît devant elle.
Il ne reste que ses yeux.
Longues belles herbes, longues belles fleurs croissaient
dans notre champ.
Obstacle si léger sur ma poitrine, comme tu t’appuies maintenant.
Tu t’appuies tellement, maintenant que tu n’es plus.

 

A jovem de budapeste

Na bruma fresca de um suspiro de mulher achei o meu lugar
Ali me refugiei e não mais pensei em partir
Seus braços nada pesam
Se está neles como na água
O que perdeu o viço some diante dela
Só existe o seu olhar
Alto pasto belo, belas flores altas, tudo cresce em nosso campo
Levíssimo obstáculo, como te apoias agora
Em meu peito, agora que já não és

 

Labyrinthe

Labyrinthe, la vie, labyrinthe, la mort
Labyrinthe sans fin, dit le Maître de Ho.

Tout enfonce, rien ne libère.
Le suicidé renaît à une nouvelle souffrance.

La prison ouvre sur une prison
Le couloir ouvre un autre couloir:

Celui qui croit dérouler le rouleau de sa vie
Ne déroule rien du tout.

Rien ne débouche nulle part
Les siècles aussi vivent sous terre, dit le Maître de Ho.

 

Labirinto

Labirinto, a vida, labirinto, a morte
Labirinto sem fim, diz o Mestre de Ho

Tudo afunda, nada se liberta
O suicídio renasce com um novo sofrimento

A prisão se abre a uma prisão
O corredor se abre a outro corredor

Quem pensa desenrolar o pergaminho da própria vida
Não desenrola nada

Nada leva a lugar algum
Os séculos também vivem debaixo da terra, diz o Mestre de Ho

 

L’oiseau qui s’efface

Celui-là, c’est dans le jour qu’il apparaît, dans le jour le plus blanc.
Oiseau.
Il bat de l’aile, il s’envole. Il bat de l’aile, il s’efface.
Il bat de l’aile, il réapparaît.
Il se pose. Et puis il n’est plus. D’un battement il s’est effacé
dans l’espace blanc.
Tel est mon oiseau familier, l’oiseau qui vient peupler le ciel de
ma petite cour.
Peupler? On voit comment…
Mais je demeure sur place, le contemplant,
fasciné par son apparition, fasciné par sa disparition.

 

O pássaro que some

Está no dia em que aparece, no dia mais branco
Pássaro
Bate asas, revoa. Bate asas, some
Bate asas, ressurge
Pousa. E não está mais. Com um bater de asas
vira espaço em branco
Assim é o meu pássaro familiar, o pássaro que povoa o céu
de meu pequeno pátio
Povoar? Podemos ver como
Mas fico ali, no mesmo lugar, contemplando
fascinado pela sua aparição, fascinado pela sua desaparição

 

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.