tan ed

tan ed

Octavio Paz

 

Dois poemas 

 

Mas alla del amor

Todo nos amenaza:
el tiempo, que en vivientes fragmentos divide al que fui del que seré,
como el machete a la culebra;
la conciencia, la transparencia traspasada,
la mirada ciega de mirarse mirar;
las palabras, guantes grises, polvo mental sobre la yerba, el agua, la piel;
nuestros nombres, que entre tú y yo se levantan,
murallas de vacío que ninguna trompeta derrumba.

Ni el sueño y su pueblo de imágenes rotas,
ni el delirio y su espuma profética,
ni el amor con sus dientes y uñas nos bastan.
Más allá de nosotros,
en las fronteras del ser y el estar,
una vida más vida nos reclama.

Afuera la noche respira, se extiende,
llena de grandes hojas calientes,
de espejos que combaten:
frutos, garras, ojos, follajes,
espaldas que relucen,
cuerpos que se abren paso entre otros cuerpos.

Tiéndete aquí a la orilla de tanta espuma,
de tanta vida que se ignora y se entrega:
tú también perteneces a la noche.
Extiéndete, blancura que respira,
late, oh estrella repartida,
copa,
pan que inclinas la balanza del lado de la aurora,
pausa de sangre entre este tiempo y otro sin medida.

 

Além do amor

Tudo nos ameaça
o tempo, que em vivos fragmentos divide quem fui de quem serei
como o facão à serpente
a consciência, a transparência transpassada
o olhar cego de olhar-se olhar
as palavras, luvas cinzentas, poeira mental sobre a relva, a água, a pele
nossos nomes, que entre nós se erguem
muralhas de vazio que nenhum clarim derruba

Nem o sonho e seu povo de esfaceladas imagens
nem o delírio e sua espuma profética
nem o amor com seus dentes e unhas nos bastam
Além de nós
nas fronteiras do ser e o estar
uma vida mais vida nos reclama

Lá fora a noite respira, se estende
cheia de grandes folhas ardentes
de espelhos que combatem:
frutos, garras, olhos, folhagens
espáduas que reluzem
corpos que abrem passagem entre outros corpos

Deita aqui na margem de tanta espuma
de tanta vida que se ignora e se entrega:
tu também pertences à noite.
Estende-te, brancura que respira
pulsa, estrela dividida
taça
pão que inclinas a balança para o lado da aurora
pausa de sangue entre este tempo e outro sem medida

 

Frente al mar

1
Llueve en el mar:
al mar lo que es del mar
y que se seque la heredad.

2
¿La ola no tiene forma?
En un instante se esculpe
y en otro se desmorona
en la que emerge, redonda.
Su movimiento es su forma.

3
Las olas se retiran
– ancas, espaldas, nucas –
pero vuelven las olas
– pechos, bocas, espumas –.

4
Muere de sed el mar.
Se retuerce, sin nadie,
en su lecho de rocas.
Muere de sed de aire.

 

 

frente ao mar

1
Chove no mar
ao mar o que é do mar
e que se acabe o herdado

2
A onda não tem forma?
Em um instante se esculpe
e no outro desmorona
do que emerge, redonda
O movimento é sua forma

3
As ondas se afastam
ancas, espáduas, nucas
mas voltam as ondas
peitos, bocas, espumas

4
Morre de sede o mar
Se retorce, a sós
em seu leito de rochas
Morre sedento de ar

 

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.