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Eugenio Montale

10 poemas de Ossos de Sépia

*

Non chiederci la parola che squadri da ogni lato
l’animo nostro informe, e a lettere di fuoco
lo dichiari e risplenda come un croco
perduto in mezzo a un polveroso prato.

Ah l’uomo che se ne va sicuro,
agli altri ed a se stesso amico,
e l’ombra sua non cura che la canicola
stampa sopra uno scalcinato muro!

Non domandarci la formula che mondi possa aprirti,
sì qualche storta sillaba e secca come un ramo.
Codesto solo oggi possiamo dirti,
ciò che non siamo, ciò che non vogliamo.

 

Não nos peças a palavra que moldure cada lado
do nosso ânimo informe, e com letras de fogo
o declare e fulgure como o açafrão
perdido no meio do campo empoeirado

Ah, o homem que parte seguro
dos outros e de si amigo,
e não cuida que o mormaço grava
a sua sombra no descascado muro

Não nos peças a fórmula que te abra mundos
sim alguma sílaba torta e seca como um ramo
Só podemos hoje dizer-te a fundo
o que não somos, o que não desejamos

 

*

Meriggiare pallido e assorto
presso un rovente muro d’orto,
ascoltare tra i pruni e gli sterpi
schiocchi di merli, frusci di serpi.

Nelle crepe del suolo o su la veccia
spiar le file di rosse formiche
ch’ora si rompono ed ora si intrecciano
a sommo di minuscole biche.

Osservare tra frondi il palpitare
lontano di scaglie di mare
mentre si levano tremuli scricchi
di cicale dai calvi picchi.

E andando nel sole che abbaglia
sentire con triste meraviglia
com’è tutta la vita e il suo travaglio
in questo seguitare una muraglia
che ha in cima cocci aguzzi di bottiglia.

 

Sestear pálido e absorto
junto ao ardente muro de um horto
ouvir entre arbustos e sarçais
pios de melros, silvos das corais

Nas gretas do solo ou pela urze
espiar filas de rubinas formigas
que ora se rompem, ora se cruzam
em cima de minúsculas espigas

Olhar entre a folhagem o palpitar
distante das escamas do mar
enquanto estrila o canto alto
das cigarras no monte calvo

E andando ao sol que abafa
sentir com triste maravilha
a vida que existe e que trabalha
seguindo esta trilha da muralha
que em cima tem agudos cacos de garrafa

 

*

Mia vita, a te non chiedo lineamenti
fissi, volti plausibili o possessi.
Nel tuo giro inquieto ormai lo stesso
sapore han miele e assenzio.

Il cuore che ogni moto tiene a vile
raro è squassato da trasalimenti.
Così suona talvolta nel silenzio
della campagna un colpo di fucile.

 

Vida minha, não te peço traços
fixos, ares plausíveis, ou de posse
No teu inquieto giro já o mesmo
sabor tem o mel e o absinto

O coração que pende sempre ao vil
raro estremece com pressentimentos
Assim retumba às vezes no silêncio
do campo um tiro de fuzil

 

*

Portami il girasole ch’io lo trapianti
nel mio terreno bruciato dal salino,
e mostri tutto il giorno agli azzurri specchianti
del cielo l’ansietà del suo volto giallino.

Tendono alla chiarità le cose oscure,
si esauriscono i corpi in un fluire
di tinte: queste in musiche. Svanire
è dunque la ventura delle venture.

Portami tu la pianta che conduce
dove sorgono bionde trasparenze
e vapora la vita quale essenza;
portami il girasole impazzito di luce.

 

Traz-me o girassol para que o replante
no meu terreno pelo sal queimado
e a ânsia do seu rosto amarelado
por todo o dia mostre ao céu brilhante

À claridade tende cada coisa obscura
exaurem-se os corpos num fluir
de tintes: esses em música. Deixar-se ir
é, portanto, a ventura das venturas

Traz-me essa planta que conduz
aonde vertem loiras transparências
e a vida se esvai tal qual essência
traz-me o alucinado girassol de luz

 

*

Spesso il male di vivere ho incontrato
era il rivo strozzato che gorgoglia
era l’incartocciarsi della foglia
riarsa, era il cavallo stramazzato.

Bene non seppi, fuori del prodigio
che schiude la divina Indifferenza:
era la statua nella sonnolenza
del meriggio, e la nuvola, e il falco alto levato.

 

Tanto tive o mal da vida ao lado
era o arroio estancado que borbulha
era a folha que se embrulha
requeimada, era o cavalo estatelado

Do Bem não soube, além do prodígio
que revela a divina Indiferença
era a estátua na sonolência
do meio-dia, e a nuvem, e alto o falcão içado

 

*

Gloria del disteso mezzogiorno
quand’ombra non rendono gli alberi,
e più e più si mostrano d’attorno
per troppa luce, le parvenze, falbe.

Il sole, in alto, – e un secco greto.
Il mio giorno non è dunque passato:
l’ora più bella è di là dal muretto
che rinchiude in un occaso scialbato.

L’arsura, in giro; un martin pescatore
volteggia s’una reliquia di vita.
La buona pioggia è di là dallo squallore,
ma in attendere è gioia più compita.

 

Glória do vasto meio-dia
quando a sombra some do arvoredo
e por tanta luz tudo se via
em torno mais e mais dourado

O sol, a pino, – e um leito seco
Meu dia, portanto, não é passado
a hora mais bela está além do beco
que encerra um poente caiado

Mormaço, um martim-pescador na altura
ronda uma relíquia de vida
A boa chuva está além da desventura
mas na espera a alegria é mais viva

 

*

Forse un mattino andando in un’aria di vetro,
arida, rivolgendomi, vedrò compirsi il miracolo:
il nulla alle mie spalle, il vuoto dietro
di me, con un terrore di ubriaco.

Poi come s’uno schermo, s’accamperanno di gitto
Alberi case colli per l’inganno consueto.
Ma sarà troppo tardi; ed io me n’andrò zitto
Tra gli uomini che non si voltano, col mio segreto.

 

Talvez de manhã andando num ar de vidro
árido, voltando-me, eu veja o milagre feito
às minhas costas, o vazio desfeito
em nada, com um terror de entorpecido

Então, como em um painel, de repente
árvores casas monte retomam seu enredo
Mas já será tarde e eu irei silente
entre os que não se voltam, com meu segredo

 

*

Valmorbia, discorrevano il tuo fondo
fioriti nuvoli di piante agli àsoli.
Nasceva in noi, volti dal cieco caso,
oblio del mondo.

Tacevano gli spari, nel grembo solitario
non dava suono che il Leno roco.
Sbocciava un razzo su lo stelo, fioco
lacrimava nell’aria.

Le notti chiare erano tutte un’alba
e portavano volpi alla mia grotta.
Valmorbia, un nome – e ora nella scialba
memoria, terra dove non annotta.

 

Valmorbia, passavam em teu fundo
floridas nuvens de plantas na ventania
Na ronda do cego acaso, em nós nascia
o esquecimento do mundo

Silenciavam os tiros, no colo ermo
se ouvia apenas o rouco Leno
Da varinha sumia no ar a estrela
lacrimosa de um cometa

Cada noite era um céu que alvorece
e trazia raposas à minha gruta
Valmorbia, um nome – e na muda
memória agora, terra onde não escurece

 

*

Sul muro grafito
che adombra i sedili rari
l’arco del cielo appare
finito.

Chi si ricorda più del fuoco ch’arse
impetuoso
nelle vene del mondo; – in un riposo
freddo le forme, opache, sono sparse.

Rivedrò domani le banchine
e la muraglia e l’usata strada.
Nel futuro che s’apre le mattine
sono ancorate come barche in rada.

 

No muro rabiscado
que alguns bancos sombreia
o arco do céu aparece
limitado

Quem mais lembra do fogo que ardia
impetuoso
nas veias do mundo; – em repouso
as formas opacas se dispersam, frias

Reverei amanhã o cais
e a muralha e o antigo caminho
No futuro que se abre os dias
ancoram como barcos na baía

 

*

Parli e non riconosci i tuoi accenti.
La memoria ti appare dilavata.
Sei passata e pur senti
la tua vita consumata.

Ora, che avviene?, tu riprovi il peso
di te, improvvise gravano
sui cardini le cose che oscillavano,
e l’incanto è sospeso.

Ah qui restiamo, non siamo diversi.
Immobili così. Nessuno ascolta
la nostra voce più. Così sommersi
in un gorgo d’azzurro che s’infolta.

 

Falas e desconheces teus acentos
A memória te parece diluída
Passaste e sentes, por momentos
a tua vida consumida

Agora, o que virá? Provas teu peso
outra vez, de repente entrava
nos eixos tudo o que oscilava
e o encanto está suspenso

Aqui ficamos. Não somos diversos
Imóveis assim. Mais ninguém pensa
o que dizemos. Assim imersos
numa voragem de azul que se adensa

 

 

 

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.