tan ed

Joseph Brodsky

To MB

Your voice, your body, your name
mean nothing to me now. No one destroyed them.
It’s just that, in order to forget one life, a person needs to live
at least one other life.
And I have served that portion.

 

Para MB

Tua voz, teu corpo, teu nome
nada significam para mim agora. Ninguém os destruiu.
É só que, para esquecer uma vida, precisamos
ao menos viver outra vida
E eu já passei por ela

 

каменные деревни

английские каменные деревни.
бутылка собора в окне харчевни.
коровы, разбредшиеся по полям.
памятники королям.

человек в костюме побитом молью
провожает поезд, идущий, как все тут, к морю,
улыбается дочке, уезжающей на восток.
раздается свисток.

и бескрайнее небо над черепицей
тем синее, чем громче птицей
оглашаемо. и чем громче поет она,
тем все меньше видна.

Aldeia de pedra

A aldeia de pedra inglesa
Uma igreja engarrafada na janela do bar
Vacas espalhadas pela pradaria
Monumentos à monarquia

Em um terno puído de traça
segue o trem indo, como todos aqui, ao mar
e sorri à filha que parte ao oriente
Um apito soa, o trem passa

Se, de repente, um pássaro canta
sobre os telhados o azul é diferente
E quanto mais claro canta
menor o pássaro

 

Dutch mistress
to Pauline Aarts

A hotel in whose ledgers departures are more prominent than arrivals.
With wet Koh-i-noors the October rain
strokes what’s left of the naked brain.
In this country laid flat for the sake of rivers,
beer smells of Germany and seagulls are
in the air like a page’s soiled corners.
Morning enters the premises with a coroner’s
punctuality, puts its ear
to the ribs of a cold radiator, detects sub-zero:
the afterlife has to start somewhere.
Correspondingly, the angelic curls
grow more blond, the skin gains its distant, lordly
white, while the bedding already coils
desperately in the basement laundry.

 

Amante holandesa
para Pauline Aarts

No registro do hotel as partidas são mais frequentes que as chegadas
A chuva de outubro com úmidos Koh-i-noors
golpeia o que resta de uma calva nua
Neste país plano por causa dos rios
a cerveja cheira a Alemanha e as gaivotas são no ar
como os cantos sujos de uma página
Com a pontualidade de um legista
a manhã entra nos cômodos, encosta o ouvido
nas frias costelas de um radiador, sente o abaixo de zero:
a vida depois da morte deve começar em algum lugar
Assim, enquanto os cachos angelicais
enlourecem, a pele adquire seu distante, senhorial
alvor e a roupa de cama gira
desesperadamente na lavanderia do porão

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.