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Paul Éluard

10 poemas

 

Poisson

Les poissons, les nageurs, les bateaux
Transforment l’eau.
L’eau est douce et ne bouge
Que pour ce qui la touche.

Le poisson avance
Comme un doigt dans un gant,
Le nageur danse lentement
Et la voile respire.

Mais l’eau douce bouge
Pour ce qui la touche.
Pour le poisson, pour le nageur, pour le bateau
Qu’elle porte et qu’elle emporte.

 

Peixes

Os peixes, os nadadores, os barcos
transformam a água
A água só é doce e imóvel
para quem a toca

O peixe avança
como o dedo na luva
Quem nada dança lentamente
e a vela respira

Mas se a água doce move
é por quem a toca
o peixe, o nadador, o barco
que ela veste e leva embora

 

Pour vivre ici

Je fis un feu, l’azur m’ayant abandonné,
Un feu pour être son ami,
Un feu pour m’introduire dans la nuit d’hiver
Un feu pour vivre mieux.

Je lui donnai ce que le jour m’avait donné:
Les forêts, les buissons, les champs de blé, les vignes,
les nids et leurs oiseaux, les maisons et leurs clés,
les insectes, les fleurs, les fourrures, les fêtes.

Je vécus au seul bruit des flammes crépitantes,
Au seul parfum de leur chaleur;
J’étais comme un bateau coulant dans l’eau fermée,
Comme un mort je n’avais qu’un unique élément.

 

Para viver aqui

Eu fiz um fogo, o azul me havia abandonado
Um fogo para ser seu amigo
Um fogo para entrar na noite de inverno
Um fogo para viver melhor

Eu lhe dei tudo que o dia me havia dado
as florestas, as cercas-vivas, os trigais, as vinhas
os ninhos e seus pássaros, as casas e suas chaves
os insetos, as flores, os mantos, as festas

Vivi ao crepitar das suas chamas
Ao perfume único do seu calor
Eu era um barco a afundar na água fechada
Como um morto eu tinha um só elemento

 

Max Ernst

Dans un coin l’inceste agile
Tourne autour de la virginité d’une petite robe
Dans un coin le ciel délivré
Aux épines de l’orage laisse des boules blanches.

Dans un coin plus clair de tous les yeux
On attend des poissons d’angoisse.
Dans un coin la voiture de verdure de l’été
Immobile glorieuse et pour toujours.

A la lueur de la jeunesse
Des lampes allumées très tard.
La première montre ses seins que tuent des insectes rouges.

 

Max Ernst

Em um canto o incesto ágil
ronda a virgindade de um vestido curto
Em um canto o céu libera
brancas esferas nos espinhos da tormenta

Em um canto mais claro que todos os olhos
aguardamos os peixes da angústia.
Em um canto o vagão de verdor do verão
Imóvel glorioso e para sempre

À luz da juventude
as lâmpadas acesas muito tarde
a primeira mostra seus seios que matam insetos vermelhos

 

Belle et ressemblante

Un visage à la fin du jour
Un berceau dans les feuilles mortes du jour
Un bouquet de pluie nue
Tout soleil caché
Toute source des sources au fond de l’eau
Tout miroir des miroirs brisé
Un visage dans les balances du silence
Un caillou parmi d’autres cailloux
Pour les frondes des dernières lueurs du jour
Un visage semblable à tous les visages oubliés.

 

Bela e semelhante

Um rosto ao fim do dia
Um berço entre as folhas secas do dia
Um feixe de chuva nua
Todo sol oculto
Todo fonte de fontes no fundo da água
Todo espelho de espelhos quebrados
Um rosto entre as balanças do silêncio
Um seixo ente os outros seixos
Pelo ramo dos últimos fulgores do dia
Um rosto semelhante a todos os rostos esquecidos

 

*

Tu te lèves l’eau se déplie
Tu te couches l’eau s’épanouit

Tu es l’eau détournée de ses abîmes
Tu es la terre qui prend racine
Et sur laquelle tout s’établit

Tu fais des bulles de silence dans le désert des bruits
Tu chantes des hymnes nocturnes sur les cordes de l’arc-en-ciel
Tu es partout tu abolis toutes les routes

Tu sacrifies le temps
A l’éternelle jeunesse de la flamme exacte
Qui voile la nature en la reproduisant

Femme tu mets au monde un corps toujours pareil
Le tien

Tu es la ressemblance

 

*

Levantas e a água se estende
Deitas e a água se expande

És a água desviada dos abismos
És a terra que recebe raízes
onde tudo se firma

Redomas o silêncio no deserto dos rumores
Cantas hinos noturnos nas cordas do arco-íris
Estás em toda parte aboles os caminhos

Sacrificas o tempo
à chama exata da eterna juventude
que vela a natureza ao recriá-la

Mulher, tu dás à luz um corpo sempre semelhante
O teu

És a semelhança

 

Le miroir d’un moment

Il dissipe le jour,
Il montre aux hommes les images déliées de l’apparence,
Il enlève aux hommes la possibilité de se distraire.
Il est dur comme la pierre,
La pierre informe,
La pierre du mouvement et de la vue,
Et son éclat est tel que toutes les armures, tous les masques
en sont faussés.
Ce que la main a pris dédaigne même de prendre la forme de la main,
Ce qui a été compris n’existe plus,
L’oiseau s’est confondu avec le vent,
Le ciel avec sa vérité,
L’homme avec sa réalité.

 

O espelho de um instante

Dissipa o dia
Mostra aos homens imagens livres da aparência
Retira dos homens o poder da distração
É duro como a pedra
A pedra sem forma
A pedra do movimento e da visão
E tanto resplandece que todas as couraças, todas as máscaras
falseiam
O que a mão tomou recusa tomar a forma da mão
O que foi compreendido já não existe
O pássaro confundiu-se com o vento
O céu com a sua verdade
O homem com a sua realidade

 

Giorgio de Chirico

Un mur dénonce un autre mur
Et l’ombre me défend de mon ombre peureuse,
O tour de mon amour autour de mon amour,
Tous les murs filaient blanc autour de mon silence.

Toi, que défendais-tu ? Ciel insensible et pur
Tremblant tu m’abritais. La lumière en relief
Sur le ciel qui n’est plus le miroir du soleil,
Les étoiles de jour parmi les feuilles vertes,

Le souvenir de ceux qui parlaient sans savoir,
Maîtres de ma faiblesse et je suis à leur place
Avec des yeux d’amour et des mains trop fidèles
Pour dépeupler un monde dont je suis absent.

 

Giorgio de Chirico

Um muro denuncia outro muro
E a sombra me protege da minha sombra amedrontada
Torre do meu amor ao redor do meu amor
Todos os muros rodeiam de branco o meu silêncio

E tu, que protegias? Céu insensível e puro,
que, trêmulo, me abrigavas. A luz em relevo
no céu que já não é o espelho do sol
As estrelas do dia entre as folhas verdes

A lembrança dos que falavam sem saber
Senhores da minha fraqueza e eu ocupo o seu lugar
com olhos de amor com mãos tão fiéis
para despovoar um mundo onde estou ausente

 

Sans âge

Le ciel s’élargira

Nous en avions assez
D’habiter dans les ruines du sommeil
Dans l’ombre basse du repos
De la fatigue de l’abandon

La terre reprendra la forme de nos corps vivants
Le vent nous subira
Le soleil et la nuit passeront dans nos yeux
Sans jamais les changer

Notre espace certain notre air pur est de taille
A combler le retard creusé par l’habitude
Nous aborderons tous une mémoire nouvelle
Nous parlerons ensemble un langage sensible.

 

Sem idade

O céu se alargará

Não mais podíamos
habitar as ruínas do sono
na sombra baixa do repouso
da exaustão do abandono

A terra tomará a forma dos nossos corpos vivos
O vento nos erguerá
O sol e a noite passarão por nossos olhos
sem mudá-los jamais

Nosso espaço justo nosso ar puro
cobrirá o atraso cavado pela convivência
Abordaremos juntos uma nova memória
Falaremos todos uma linguagem sensível

 

Nusch

Les sentiments apparents
La légèreté d’approche
La chevelure de caresse.

Sans soucis sans soupçons
tes yeux sont livrés à ce qu’ils voient
vus par ce qu’il regardent.

Confiance de cristal
entre deux miroirs
la nuit tes yeux se perdent
pour joindre l’éveil au désir.

 

Nusch

Os sentimentos visíveis
A leveza da presença
A cabeleira de carícias

Sem receios nem suspiros
teu olhar se entrega ao que vê
visto pelo que é olhado

Confiança de cristal
entre dois espelhos
À noite teus olhos se perdem
para unir despertar ao desejo

 

Être

Le front comme un drapeau perdu
Je te traîne quand je suis seul
Dans des rues froides
Des chambres noires
En criant misère

Je ne veux pas les lâcher
Tes mains claires et compliquées
Nées dans le miroir clos des miennes

Tout le reste est parfait
Tout le reste est encore plus inutile
Que la vie

Creuse la terre sous ton ombre

Une nappe d’eau près des seins
Où se noyer
Comme une pierre.

 

Ser

A fronte como uma bandeira perdida
eu te arrasto quando estou só
nas ruas frias
nos quartos negros
chorando miséria

Não quero abandonar
tuas mãos claras e complicadas
nascidas no fechado espelho das minhas

Todo o resto é perfeito
Todo o resto é ainda mais inútil
que a vida

Cava a terra da tua sombra

Um lençol d’água junto aos seios
onde afundar
como uma pedra

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.