Personal helicon
For Michael Longley
As a child, they could not keep me from wells
And old pumps with buckets and windlasses.
I loved the dark drop, the trapped sky, the smells
Of waterweed, fungus and dank moss.
One, in a brickyard, with a rotted board top.
I savoured the rich crash when a bucket
Plummeted down at the end of a rope.
So deep you saw no reflection in it.
A shallow one under a dry stone ditch
Fructified like any aquarium.
When you dragged out long roots from the soft mulch
A white face hovered over the bottom.
Others had echoes, gave back your own call
With a clean new music in it. And one
Was scaresome, for there, out of ferns and tall
Foxgloves, a rat slapped across my reflection.
Now, to pry into roots, to finger slime,
To stare, big-eyed Narcissus, into some spring
Is beneath all adult dignity. I rhyme
To see myself, to set the darkness echoing
Hélicon pessoal
para Michael Longley
Criança, ninguém me afastava de um poço
das velhas bombas, seus baldes e polias
Adorava o tombo escuro, o céu no fosso
o cheiro de alga, musgo molhado e fungo
No com tampa podre da olaria
eu desfrutava o baque quando o balde
caía a pino no fim da corda tão fundo
que o reflexo não se via
O outro, mais raso, na pedra seca do valo
germinava como um aquário
Quando arrancavas as longas raízes do barro
um rosto branco flutuando surgia
E os com eco, onde a voz ressoa
mais nova, com uma límpida melodia
E o temido, se entre os ramos de campainha
e samambaias um rato pisoteava o meu reflexo
Agora, vasculhar nas raízes, manusear o limo,
fixar um olho enorme de Narciso na fonte
supera qualquer dignidade adulta. Rimo
para me ver, para que a escuridão ecoe.
Death of a naturalist
All year the flax-dam festered in the heart
Of the townland; green and heavy headed
Flax had rotted there, weighted down by huge sods.
Daily it sweltered in the punishing sun.
Bubbles gargled delicately, bluebottles
Wove a strong gauze of sound around the smell.
There were dragonflies, spotted butterflies,
But best of all was the warm thick slobber
Of frogspawn that grew like clotted water
In the shade of the banks. Here, every spring
I would fill jampotfuls of the jellied
Specks to range on window sills at home,
On shelves at school, and wait and watch until
The fattening dots burst, into nimble
Swimming tadpoles. Miss Walls would tell us how
The daddy frog was called a bullfrog
And how he croaked and how the mammy frog
Laid hundreds of little eggs and this was
Frogspawn. You could tell the weather by frogs too
For they were yellow in the sun and brown
In rain.
Then one hot day when fields were rank
With cowdung in the grass the angry frogs
Invaded the flax-dam; I ducked through hedges
To a coarse croaking that I had not heard
Before. The air was thick with a bass chorus.
Right down the dam gross bellied frogs were cocked
On sods; their loose necks pulsed like sails. Some hopped:
The slap and plop were obscene threats. Some sat
Poised like mud grenades, their blunt heads farting.
I sickened, turned, and ran. The great slime kings
Were gathered there for vengeance and I knew
That if I dipped my hand the spawn would clutch it.
Morte de um naturalista
O linho supurava dentro do fosso no coração da aldeia
o ano inteiro, verde e com a cabeça pesada
o linho apodrecia debaixo de enormes torrões
e a cada dia sufocava sob o castigo do sol
Bolhas gorgolavam delicadamente, varejeiras
teciam uma grossa gaze zunindo ao redor do bolor
E libélulas, borboletas estampadas também
Mas o melhor de tudo era essa baba quente e densa
das ovas de rã que crescia na sombra das margens
como água coagulada. Aqui, a cada nova primavera
eu encheria potes de marmelada com essa gelatina
embolotada para exibir na janela de casa
nas estantes do colégio e esperaria e cuidaria
até que os pontinhos engordassem estourando em ágeis
girinos nadadores. A professora nos explicava
que o sapo pai se chamava sapo-boi
e que ele coaxava e como a sapa mãe
punha centenas de pequenas ovas e essas eram
a baba de sapo. Era também possível prever o tempo pelos sapos
pois, ficavam amarelos ao sol e marrons
na chuva.
Então, um mormacento dia quando o pasto
no campo fedia a esterco de gado, sapos irados
invadiram o coradouro de linho; e eu me esgueirei pelas sebes
através de um coaxar bruto que nunca ouvira
antes. O ar mais denso por aquele coro grave.
No fosso, sobre os torrões, sapos barrigudos entufados;
os papos macios pulsando como pano de vela. Alguns
saltavam e o som dos mergulhos eram ameaças obscenas. Outros
pareciam granadas de barro, com suas calvas cabeças, peidando.
Me senti enjoado, dei a volta e fugi. Os enormes reis babões
estavam ali reunidos por vingança e eu soube
que se mergulhasse a mão a baba me agarraria.
Blackberry-picking
for Philip Hobsbaum
Late August, given heavy rain and sun
For a full week, the blackberries would ripen.
At first, just one, a glossy purple clot
Among others, red, green, hard as a knot.
You ate that first one and its flesh was sweet
Like thickened wine: summer’s blood was in it
Leaving stains upon the tongue and lust for
Picking. Then red ones inked up and that hunger
Sent us out with milk cans, pea tins, jam-pots
Where briars scratched and wet grass bleached our boots.
Round hayfields, cornfields and potato-drills
We trekked and picked until the cans were full,
Until the tinkling bottom had been covered
With green ones, and on top big dark blobs burned
Like a plate of eyes. Our hands were peppered
With thorn pricks, our palms sticky as Bluebeard’s.
We hoarded the fresh berries in the byre.
But when the bath was filled we found a fur,
A rat-grey fungus, glutting on our cache.
The juice was stinking too. Once off the bush
The fruit fermented, the sweet flesh would turn sour.
I always felt like crying. It wasn’t fair
That all the lovely canfuls smelt of rot.
Each year I hoped they’d keep, knew they would not.
Colheitas de amoras
para Philip Hobsbaum
Final de agosto, uma semana de chuvarada
e sol, amadureciam as amoras
Surgia uma, a primeira: coágulo brilhante e púrpura
entre rubras, verdes, duras como um nó
A comias e a polpa era doce como vinho
espesso: havia nela o sangue do verão
manchando a língua, despertando a ânsia de colher
As rubras se tingiam e a gana era de correr
com tarros de leite, latas de ervilha, potes de marmelada
onde as amoreiras espinhavam e o pasto molhado branqueava nossas botas
Nos campos de feno e milho e pelos cultivos de batatas
recolhíamos os frutos até a borda dos tarros
até que o fundo tilintante estivesse coberto
de amoras verdes enquanto por cima ardiam grandes gotas escuras
como uma travessa com olhos. Nossas mãos machucadas
pelos espinhos, as palmas pegajosas como as do Barba Azul
Armazenávamos as amoras frescas no estábulo
Mas quando o tanque enchia, um aveludado
fungo gris cor de rato devorava nossa recolta
Também o suco fedia. Longe da amoreira
o fruto fermentava, a polpa doce azedava
Sentia as lágrimas vindo. Era injusto
que essas delícias cheirassem a podre
Cada ano esperava que durassem, sabia que não
Bogland
for T. P. Flanagan
We have no prairies
To slice a big sun at evening
Everywhere the eye concedes to
Encrouching horizon,
Is wooed into the cyclops’ eye
Of a tarn. Our unfenced country
Is bog that keeps crusting
Between the sights of the sun.
They’ve taken the skeleton
Of the Great Irish Elk
Out of the peat, set it up
An astounding crate full of air.
Butter sunk under
More than a hundred years
Was recovered salty and white.
The ground itself is kind, black butter
Melting and opening underfoot,
Missing its last definition
By millions of years.
They’ll never dig coal here,
Only the waterlogged trunks
Of great firs, soft as pulp.
Our pioneers keep striking
Inwards and downwards,
Every layer they strip
Seems camped on before.
The bogholes might be Atlantic seepage.
The wet centre is bottomless.
Pântano
para T. P. Flanagan
Não temos planícies
que ao poente cortem um sol imenso
Por toda parte o olhar cede
ao horizonte invasor
atraído pelo olho de ciclope
de um açude. Nosso campo aberto
é um pântano de crostas
entre as vistas do sol
Retiraram a ossada
do Grande Alce irlandês
fora da turfa, em um colossal
engradado cheio de ar
Manteiga enterrada
por mais de cem anos
foi resgatada, salgada e branca
O chão em si é bom, manteiga negra
Dissolto, se abre embaixo dos pés
perdendo sua definição final
por milhões de anos
Carvão algum se extrai daqui
apenas os troncos alagados
dos grandes abetos, macios como polpa
Nossos pioneiros pressionam
para dentro e para baixo
Cada camada desenterrada
parece assentada na anterior.
Os sumidouros seriam infiltração atlântica
O centro molhado é sem fundo
Anahorish
My “place of clear water,”
the first hill in the world
where springs washed into
the shiny grass
and darkened cobbles
in the bed of the lane.
Anahorish, soft gradient
of consonant, vowel-meadow,
after-image of lamps
swung through the yards
on winter evenings.
With pails and barrows
those mound-dwellers
go waist-deep in mist
to break the light ice
at wells and dunghills.
Anahorish
Meu “lugar de água clara”
primeira colina do mundo
onde as fontes escorriam
pela relva brilhante
e enegreciam os seixos
no leito da alameda
Anahorish, gradiente suave
de consoante, vogal campestre
imagem atrás dos lampiões
balançando pelos quintais
nas noites de inverno
Com baldes e carros de mão
os moradores da colina
a neblina pela cintura
vão quebrar o gelo fino
de poços e esterqueiras
The disappearing island
Once we presumed to found ourselves for good
Between the blue hills and those sandless shores
Where we spent our desperate night in prayer and vigil,
Once we had gathered driftwood, made a hearth
And hung our cauldron like a firmament,
The island broke beneath us like a wave.
The land sustaining us seemed to hold firm
Only when we embraved it in extremis.
All I believe that happened there was a vision.
A ilha desaparecida
Nem bem presumimos ter-nos encontrado para sempre
entre as colinas azuis e aquelas praias sem areia
onde passamos nossa noite desesperada em prece e vigília
Nem bem juntamos madeira flutuante, fizemos fogo
e penduramos nosso caldeirão como um firmamento
A ilha desfez-se embaixo de nós como uma onda
A terra que nos mantinha parecia firme
Somente quando a exortamos in extremis
tudo o que creio ter acontecido ali foi uma visão
At toomebridge
Where the flat water
Came pouring over the weir out of Lough Neagh
As if it had reached an edge of the flat earth
And fallen shining to the continuous
Present of the Bann.
Where the checkpoint used to be.
Where the rebel boy was hanged in ’98.
Where negative ions in the open air
Are poetry to me. As once before
The slime and silver of the fattened eel.
Em Toomebridge
Onde a água lisa
transbordava a taipa do lago Neagh
como se tivesse chegado na margem da terra plana
e caísse brilhando no contínuo
presente de Bann.
Onde havia um o posto de controle
Onde em 98 foi enforcado o jovem rebelde
Onde os íons negativos ao ar aberto
são poesia para mim. Como aquela vez
o lodo e a prata da enguia cevada