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Golfe, por Carlos Alberto Potoko

Como um passaporte para uma fronteira distante, um outro universo ou, até mesmo, para dentro de nós mesmos. “Golfe”, um primoroso documento do golfe santanense feito no dia a dia de um golfista sem frescura com um esporte que não tem nada de elitista, ao contrário, até revelou um santanense: Herik Machado, o qual, de iniciante em projeto social em Livramento à campeão do mundial na Inglaterra. A obra em preto e branco ficou finíssima com fotos bucólicas e palavras que rolam deliciosamente na língua, emolduradas em uma capa dura com uma foto atemporal do Clube Campestre parecendo querer nos dizer algo espiritual. Ela é da Grafitec, revisão do Montanari da Marco Zero e impressa pela editora Movimento. Tudo ali é mais que história, é a alma do Thomaz e dos nossos antepassados. Retrata um século de esporte no Rincão da Carolina, os americanos do Armour, os golfistas proletários da Charqueada e a grande tradição campestrina, desde o melhor golfista brasileiro de todos os tempos, Mario Gonzalez, até Herik Machado, a maior revelação da Escola de Golfe do Campestre, hoje o número 1 do ranking brasileiro. Thomaz registrou tudo numa prosa poética redonda e forte como bola de golfe no dia a dia dos treinos, a natureza, as estações, as técnicas e as sensações durante as etapas de aperfeiçoamento pelas quais passa um golfista amador até o profissionalismo.
Digo que a obra do Thomaz é primorosa por ele acreditar que a educação é o caminho para a transformação da sociedade, e os livros e as bibliotecas têm papel principal nessa história. Ele expôs um belo pensamento parado entre o céu e a terra. Provoca a mente: “Olho para o alvo e tudo é futuro. Bato e o instante se alonga. A bola para, já é passado. Só eu sigo como se não passasse. E continua a nos provocar a existência num átimo de segundo das estações enquanto a bola voa: “ *26 de novembro de 1999 – Com folhas, a rajada de vento entre a bola e o buraco. O mormaço infla a altura. A leveza suga o voo da bola. O verão expande o céu e encurta a cancha. *Dia 28 – Bato bem. O sol da manhã me favorece. […] Se a tacada é perfeita, não a sinto minha. O erro sim, é sempre meu. […} * Dia 29 – Se caminho ao tiro seguinte mantendo a respiração serena, o poder de concentração aumenta. O swing é mais nítido, o pouso da garça mais lento. *Dia 30 – Aqui no Oeste da Campanha tudo é mais sólido. O céu compacta a terra e a matéria pesa mais em cada coisa. E assim segue o livro, mês a mês. Estação por estação, o Thomas caminha e entre uma tacada e outra anota o que sua alma tinha a dizer. Não só por ele, mas por todos que ali caminharam entre o som e a fúria das tacadas da vida deles e da nossa com as lúdicas metáforas do Golfe do Thomas Albornoz Neves.

tan editorial

Idealizada por Thomaz Albornoz Neves, a chancela tan ed. reúne títulos  de autores cisplatinos e afins. São obras de fotografia, arte, poesia, ensaio e relato escritas em português e espanhol (com alguma pitada de portunhol). O empreendimento é solitário, sazonal e sem fins lucrativos. Os livros têm a mesma identidade gráfica e são, na sua maioria, ilustrados com desenhos do editor. A tiragem varia entre 75 e 300 exemplares numerados.