Como um passaporte para uma fronteira distante, um outro universo ou, até mesmo, para dentro de nós mesmos. “Golfe”, um primoroso documento do golfe santanense feito no dia a dia de um golfista sem frescura com um esporte que não tem nada de elitista, ao contrário, até revelou um santanense: Herik Machado, o qual, de iniciante em projeto social em Livramento à campeão do mundial na Inglaterra. A obra em preto e branco ficou finíssima com fotos bucólicas e palavras que rolam deliciosamente na língua, emolduradas em uma capa dura com uma foto atemporal do Clube Campestre parecendo querer nos dizer algo espiritual. Ela é da Grafitec, revisão do Montanari da Marco Zero e impressa pela editora Movimento. Tudo ali é mais que história, é a alma do Thomaz e dos nossos antepassados. Retrata um século de esporte no Rincão da Carolina, os americanos do Armour, os golfistas proletários da Charqueada e a grande tradição campestrina, desde o melhor golfista brasileiro de todos os tempos, Mario Gonzalez, até Herik Machado, a maior revelação da Escola de Golfe do Campestre, hoje o número 1 do ranking brasileiro. Thomaz registrou tudo numa prosa poética redonda e forte como bola de golfe no dia a dia dos treinos, a natureza, as estações, as técnicas e as sensações durante as etapas de aperfeiçoamento pelas quais passa um golfista amador até o profissionalismo.
Digo que a obra do Thomaz é primorosa por ele acreditar que a educação é o caminho para a transformação da sociedade, e os livros e as bibliotecas têm papel principal nessa história. Ele expôs um belo pensamento parado entre o céu e a terra. Provoca a mente: “Olho para o alvo e tudo é futuro. Bato e o instante se alonga. A bola para, já é passado. Só eu sigo como se não passasse. E continua a nos provocar a existência num átimo de segundo das estações enquanto a bola voa: “ *26 de novembro de 1999 – Com folhas, a rajada de vento entre a bola e o buraco. O mormaço infla a altura. A leveza suga o voo da bola. O verão expande o céu e encurta a cancha. *Dia 28 – Bato bem. O sol da manhã me favorece. […] Se a tacada é perfeita, não a sinto minha. O erro sim, é sempre meu. […} * Dia 29 – Se caminho ao tiro seguinte mantendo a respiração serena, o poder de concentração aumenta. O swing é mais nítido, o pouso da garça mais lento. *Dia 30 – Aqui no Oeste da Campanha tudo é mais sólido. O céu compacta a terra e a matéria pesa mais em cada coisa. E assim segue o livro, mês a mês. Estação por estação, o Thomas caminha e entre uma tacada e outra anota o que sua alma tinha a dizer. Não só por ele, mas por todos que ali caminharam entre o som e a fúria das tacadas da vida deles e da nossa com as lúdicas metáforas do Golfe do Thomas Albornoz Neves.